Três grandes contribuições de Lutero à posteridade, segundo Lyndal Roper, distinta Professora de História da Universidade de Oxford (transcritos aqui de memória e nas minhas humildes palavras):
a) Uma visão da natureza humana que fugiu da dicotomia carne e espírito, corpo e alma, e, portanto, foi capaz de valorizar o lado físico e material das coisas (até na Santa Ceia!), o pão e o sangue, o corpo e o sexo, a comida e a bebida, que foi capaz de aceitar com naturalidade e sem falsos pudores os produtos do corpo humano e até mesmo a linguagem mais chula com que nos referimos a eles e a às partes do corpo por onde eles são liberados…
b) Uma convicção firme de que nunca poderemos merecer as graças que Deus está disposto a nos conceder, mas que ele no-las concederá, da mesma forma, apesar disso — fato que nos dispensa da necessidade de tentar fazer por merecer os favores de Deus e nos livra da necessidade de buscar a perfeição: a gente é o que é e vem como está.
c) Uma consciência aguda de que a dúvida sempre acompanha a fé.
(Lyndal Roper, Martin Luther: Renegade and Prophet (Random House, New York, 2017), penúltima página do livro.)
Muito interessante o livro. É uma “biografia psicanalítica” do Lutero… Lutero já tinha sido “psicanalizado” em livro antes, por Erik H Erikson, em Young Man Luther: A Study in Psychoanalysis and History (W. W. Norton & Co, New York, 1993).
Em São Paulo, 2 de Junho de 2017